O uso de substâncias psicoativas remonta a milhares de anos, sendo algo presente na história da humanidade. A maconha, planta que se caracteriza por seu cultivo milenar, é utilizada nos diversos lugares e épocas, com aplicações na medicina, indústria (confecção de papel, cordas e velas para navios) e em rituais religiosos.
A cannabis possui uma longa história na medicina. Há relatos que na China, em 2737 a.C., o imperador Shen-Nung a prescrevia para tratamento de beribéri, malária, gota, reumatismo, constipação e fadiga. O conhecimento de seu uso parece ter surgido originalmente na região do Himalaia e na Índia. Foi utilizada na medicina tradicional indiana em indicações similares às que se observa em muitas descrições atualmente na prática médica, como: na analgesia e sedação, relaxante muscular, anticonvulsivante, estimulante do apetite, antipirético e no tratamento de desintoxicação pelo álcool e opioides.
Quase um milênio depois, em 1799, foi introduzida formalmente na Europa quando Napoleão retornou do Egito com amostras de Cannabis sativa, despertando o interesse da comunidade científica pelos seus efeitos sedativos e de alívio da dor.
No século XIX, o uso de tinturas e extratos de cannabis era amplamente disseminado na Europa e América do Norte, em grande parte pela contribuição do médico irlandês Dr. Willian B. O’Shaugnessy e do psiquiatra francês Jacques-Joseph Moreau, que a haviam descoberto em uma de suas inúmeras viagens ao Oriente.
Em 1844, O’Shaughnessy retornou à Inglaterra, quando introduziu a cannabis na medicina ocidental e na farmacopeia do Reino Unido e posteriormente nos Estados Unidos, país que a adotou como medicação sedativa e anticonvulsivante, sob forma de extrato.
No início do século XX, vários laboratórios farmacêuticos produziam medicamentos à base de cannabis, incluindo os gigantes Merck (Alemanha), Bristol-Myers Squibb (Estados Unidos) e Eli-Lilly (Estados Unidos). Décadas mais tarde, apesar do uso milenar da cannabis, inúmeras restrições legais limitaram o uso medicinal das tinturas nos Estados Unidos, com retirada oficial da farmacopeia na edição de 1941 e consequente eliminação do arsenal terapêutico dos médicos ocidentais.
No começo do século XX a planta começa a ser proibida nos Estados Unidos. O mundo moderno passou a dar as costas para seus benefícios. No entanto, a pesquisa sobre a cannabis e seus efeitos começou a ganhar legitimidade após a identificação da sua estrutura química, da possibilidade da obtenção de seus componentes isolados e de como poderiam funcionar no organismo.
Na década de 60, Raphael Mechoulam, professor e pesquisador israelense, isolou os principais componentes da cannabis e identificou suas estruturas químicas: os fitocanabinoides. Inicialmente, o canabinoide que mais ganhou atenção dos pesquisadores foi o tetrahidrocanabinol (THC) devido às suas propriedades psicoativas. O canabidiol (CBD), outro canabinoide também encontrado na planta, foi identificado e isolado pela primeira vez em 1963 pelo Dr. Mechoulam e por equipes de pesquisadores de outros países, porém não chamou tanta atenção porque não causava efeitos psicoativos evidentes.
Hoje finalmente estamos voltando às origens com o fim da proibição da cannabis e do cânhamo, que são a fonte principal dos canabinoides utilizados em diversos tratamentos que visam o bem-estar da população.