A Esclerose Múltipla afeta cerca de 40 mil pessoas no Brasil são atingidas pela doença. No mundo, esse número chega a quase 3 milhões. A patologia, que ataca o sistema nervoso central, é autoimune, sem cura e o tratamento convencional envolve medicamentos como imunossupressores, corticoides, anti-inflamatórios e quimioterapia. Nesse cenário, ao possibilitar um tratamento com efeitos colaterais reduzidos e menos nocivos, a cannabis medicinal tem sido utilizada de forma bastante eficaz pelos pacientes.
O canabidiol, molécula integrante da cannabis, é responsável por atuar no sistema nervoso central e apresenta efeitos positivos no tratamento de doenças degenerativas, como é o caso da esclerose múltipla. Segundo o neurologista Diego Silvério Gonzaga, médico da Gravital, clínica especializada em tratamentos à base de cannabis, é possível utiliza-lá para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com esclerose múltipla, uma tentativa de reduzir a progressão da doença inflamatória. “Em geral, temos bons resultados nas dores crônicas, aumento de apetite, disposição para atividades diárias e qualidade do sono”, afirma ele.
Pesquisas comprovam que a planta auxilia no alívio de diversos sintomas ligados à condição, como rigidez muscular, dor e fadiga. Estudos recentes têm se concentrado em entender como os compostos ativos da cannabis, como o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), podem influenciar os sintomas da esclerose múltipla. O THC, conhecido por seus efeitos psicoativos, demonstrou ter propriedades anti-inflamatórias e analgésicas que podem ajudar a reduzir a dor e a inflamação associadas à doença. O CBD, por sua vez, é reconhecido por suas propriedades neuroprotetoras, que podem ajudar a preservar a integridade das células nervosas afetadas pela esclerose múltipla. Um estudo publicado no “Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry” (2012) explorou o efeito do THC e do CBD na redução da espasticidade muscular em pacientes com esclerose múltipla. Os resultados sugeriram que a combinação desses compostos pode ser eficaz na melhoria da função muscular e na qualidade de vida dos pacientes. Além disso, pesquisas conduzidas por Zajicek et al. e publicadas no “New England Journal of Medicine” (2012) investigaram o efeito do extrato de cannabis rico em THC e CBD na redução dos sintomas da esclerose múltipla, incluindo a melhoria da locomoção e o alívio da dor.
Os resultados sugerem que a cannabis medicinal pode desempenhar um papel significativo no manejo dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Ainda, segundo o neurologista, o tempo de resposta varia entre os indivíduos, mas em geral, ao final do primeiro mês de tratamento já se espera alguma melhora. “Temos pacientes com esclerose múltipla e as respostas têm sido as mais diversas, desde melhora no sono, até redução das dores e estabilidade das crises”, finaliza ele.