A cannabis possui mais de 500 compostos. Dentre estes, 104 são canabinoides já identificados, encontrados nas flores, folhas e caule. Estes compostos vegetais são conhecidos como fitocanabinoides e trabalham para imitar ou neutralizar os endocanabinoides encontrados naturalmente no corpo humano. Quando um canabinoide específico ou combinações destes se ligam a um receptor especializado, um evento ou uma série de eventos é desencadeado dentro da célula, resultando em uma mudança em sua atividade, sua regulação gênica e nos sinais que ela envia para as células vizinhas. Este processo é chamado de “transdução de sinal”.
Apesar de haver mais de cem canabinoides produzidos pela cannabis, somente alguns existem em quantidades significativas. Dentre estes, os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Pesquisas sobre os benefícios desses dois compostos estão bem estabelecidos. O THC é psicoativo e apresenta propriedades analgésicas e antieméticas. Já o CBD apresenta propriedades antipsicóticas, anticonvulsivas e ansiolíticas. Diversos outros canabinoides estão sendo pesquisados para potenciais terapêuticos, e evidências e pesquisas comprovam que estes funcionam de forma mais eficaz juntos que isolados. O uso isolado pode limitar o potencial de beneficiar várias condições médicas.
O tetrahidrocanabinol (THC) é o canabinoide mais comumente produzido pela cannabis. Foi um dos primeiros fitocanabinoides a ser descoberto e isolado. Apesar de não ser tóxico, doses mais altas produzem efeitos psicoativos importantes, com alteração do comportamento. Foi isso que trouxe popularidade à cannabis como droga recreativa, e durante décadas foi visto como responsável pelos efeitos no organismo da planta.
O THC liga-se a ambos receptores CB1 e CB2 como ativador parcial, o que explica seus efeitos psicoativos. Devido à atividade agonista, promove tolerância dos receptores conforme seu uso é aumentado. Daí a importância do uso racional e da associação de outros canabinoides, como o CBD, que modulam essa atividade e promovem equilíbrio do sistema endocanabinoide.
Por ser o canabinoide mais extensamente estudado, seus efeitos terapêuticos são bem documentados, como na redução da inflamação, alívio da dor, estímulo do apetite, entre outros. Estas aplicações estão melhores descritas na seção “condições médicas“.
Referência(s):
BACKES, Michael. Cannabis Pharmacy: The Practical Guide to Medical Marijuana. New York: Black Dog & Leventhal Publishers, 2014.
O canabidiol (CBD) é o segundo canabinoide mais produzido pela cannabis geralmente, ficando atrás apenas do THC. O CBD ganhou popularidade devido às suas propriedades medicinais e concomitante ausência de efeitos tóxicos. Devido a isso, passou a ser estudado para diversas terapêuticas, como no tratamento da ansiedade, inflamação, dor, convulsão, entre outros. Estes efeitos estão mais bem discutidos na seção tratamentos.
Sua ação é bastante diferente do THC. O CBD interage com uma ampla gama de receptores além dos receptores CB1 e CB2, apesar de poder agir como antagonista de seus ativadores, como o THC. Por isso, o CBD atua como modulador do sistema endocanabinoide ao invés de ativador, equilibrando a atuação de outros canabinoides e balanceando seus possíveis efeitos negativos.
Apesar de não haver dose letal do CBD ou efeitos colaterais importantes, este continua em vias de legalização na maior parte do mundo. No entanto, a grande maioria dos estados dos Estados Unidos já legalizou o CBD derivado da cannabis para fins medicinais. O desenvolvimento de terapias com o CBD e outros canabinoides está acontecendo de forma exponencial, e evidências indicam uma evolução promissora da medicina canábica.
Referência(s):
Um dos motivos da cannabis ser amplamente utilizada como auxílio para o sono é o canabinol (CBN). Este canabinoide é um produto da oxidação espontânea do tetrahidrocanabinol (THC), e sua ocorrência é muito baixa na planta in natura. O CBN é pouco psicoativo, porém é sinergicamente sedativo junto ao THC, causando sensação de torpor via ação em receptores CB1 e CB2, sendo que sua afinidade ao receptor CB2 é três vezes maior que ao CB1. Portanto, sua atuação é maior nos sistemas imunológico e nervoso periférico do que no sistema nervoso central. Assim, acredita-se que o CBN possa ser útil no tratamento de doenças relacionadas ao sistema imune, como esclerose múltipla e doença de Crohn, além de ter possíveis efeitos no aumento da produção de testosterona.
Em uma pesquisa com camundongos, o CBN foi testado paralelamente com uma combinação de CBN e CBD para diminuição de dor mecânica muscular induzida. Ambos foram eficazes, porém a combinação dos dois canabinoides induziu uma redução mais duradoura.
As pesquisas com CBN ainda estão no começo, porém são promissoras. Outro estudo sugere estimulação do crescimento ósseo. Caso confirmado, o CBN pode vir a ser útil no tratamento da osteoporose, condição bastante comum em idosos. Além disso, também poderia auxiliar na recuperação de fraturas.
Referência(s):
BACKES, Michael. “Cannabis Pharmacy: The Practical Guide to Medical Marijuana”. New York: Black Dog & Leventhal Publishers, 2014.
O tetrahidrocanabivarin (THCV) é semelhante ao THC na estrutura molecular, porém difere na atividade. Este atua como agonista parcial do receptor CB2, porém é antagonista do CB1 em doses baixas, ao contrário do THC. Outra diferença é em relação ao apetite: enquanto o THC é estimulante, o THCV é inibitório.
Em um estudo extenso com roedores, o THCV demonstrou alta eficácia na recuperação de adicção por nicotina. Também foi concluído que este canabinoide pode ter eficácia no tratamento da adicção de outras drogas viciantes. Em outra pesquisa, também com roedores, foram encontrados efeitos anticonvulsivantes importante, o que demonstra potencial no tratamento da epilepsia.
Além disso, o THCV pode ajudar no tratamento da diabetes. Um estudo demonstrou eficácia na redução da glicemia de jejum e melhora da função pancreática em pacientes diabéticos.
Referência(s):
O canabigerol (CBG) é um canabinoide analgésico não psicoativo. O CBG é um precursor usado pela cannabis para produzir tanto o THC quanto o CBD, e por isso somente algumas variantes da planta ainda possuem quantidades significativas quando maduras. Além disso, o CBG tem propriedades únicas dentre os canabinoides primários, visto que interage com uma ampla gama de receptores fora do sistema endocanabinoide.
Até recentemente, o CBG não foi estudado como os outros canabinoides. No entanto, um recente estudo italiano demonstrou eficácia do CBG no tratamento de um modelo de síndrome do intestino irritável em ratos. Até hoje, esta doença é incurável em humanos e afeta milhões de pessoas. Em outro estudo com roedores, propriedades neuroprotetoras e vasodilatadoras foram identificadas, além do potencial em reduzir a pressão intraocular, o que pode ser útil no tratamento do glaucoma. Também em outra pesquisa com ratos foi visto que o CBG inibe o crescimento de células tumorais colorretais.
Estudos em humanos são necessários para a elaboração dos potenciais terapêuticos do CBG, porém as pesquisas já realizadas deixam claro o potencial médico deste canabinoide.
Referência(s):
O canabicromeno (CBC) é mais um canabinoide não psicoativo produzido pela cannabis. Possui propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, e recentemente foi demonstrada atividade antifúngica e antidepressiva. O CBC não possui afinidade significante com os receptores CB1 e CB2, porém atua em outros receptores e inibe a receptação celular da anandamida (um endocanabinoide), promovendo sua atividade. Essa atuação interage positivamente com os efeitos dos outros canabinoides, conhecida como efeito comitiva.
Por enquanto, os estudos até hoje feitos foram com roedores, porém revelam potenciais terapêuticos. Dentre estes, um estudo de 2006 demonstrou propriedades antitumorais do CBC. Outro estudo mostrou que o CBC atua na modulação da dor e inflamação. Um terceiro evidenciou atuação positiva em uma célula essencial para a homeostase cerebral.
Dados os resultados positivos encontrados nos estudos preliminares com o CBC, novos projetos de pesquisas estão se desenvolvendo para explorar seus potenciais usos.
Referência(s):
Centro de referência em cannabis medicinal no Brasil.
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