Benefícios terapêuticos da cannabis no controle da doença
De acordo com dados do Ministério da Saúde, há atualmente no Brasil cerca de 12,3 milhões de pessoas com diabetes, síndrome caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue. A doença, que pode ser caracterizada como diabetes tipo 1 ou tipo 2, se desenvolve por meio de fatores genéticos, biológicos e ambientais. Ainda não existe cura para a doença, que pode ser controlada com monitoramento dos níveis de açúcar e tratamento com insulina. No entanto, pesquisas têm mostrado que a cannabis medicinal também pode contribuir no tratamento dos pacientes diabéticos.
Ação da cannabis no metabolismo
De acordo com o endocrinologista João Regis Ivar Carneiro, médico da Clínica Gravital na unidade do Rio de Janeiro, os compostos canábicos possuem não somente efeitos diretos no metabolismo, como também indiretos, e não necessariamente relacionados ao diabetes, porém de grande valor na abordagem terapêutica do diabetes. “Vários estudos evidenciam uma desregulação do sistema endocanabinoide (SEC), estando excessivamente ativado no diabetes mellitus. A hiperativação do SEC pode prejudicar o funcionamento de várias vias metabólicas, causando redução da eficácia de ação da insulina, acúmulo de gordura no fígado, entre outras alterações, prejudicando assim o bom funcionamento metabólico”, explica. Segundo ele, existem várias evidências de que os canabinoides encontrados nas plantas podem interferir de maneira positiva no metabolismo, atenuando ou revertendo essa desregulação.
O médico explica que o diabetes é uma doença multissistêmica, ou seja, que pode gerar repercussões em vários órgãos e tecidos. Constitui importante causa de perda de visão, insuficiência renal com necessidade de diálise, pode provocar neuropatia, sendo também o principal fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular. “Sabe-se que o estresse e a ansiedade podem interferir negativamente no controle da doença. Vários estudos mostram também relação entre sono de má qualidade e descontrole dos níveis de glicose no sangue”, diz.
Uma aliada no controle da doença
O tratamento com compostos canabinoides também pode interferir de maneira positiva em situações que comprovadamente impactam negativamente no controle da doença e no surgimento de complicações. Isso porque pessoas ansiosas, sob estresse extremo ou com má qualidade de sono geralmente têm mais dificuldade em se dedicar ao tratamento adequado de uma doença crônica. E é justamente nesses pontos que a cannabis aparece como uma boa aliada. “A ação da cannabis no sono, no stress e na ansiedade, de maneira indireta, pode gerar um ambiente bem mais favorável para o controle glicêmico e consequentemente repercute de maneira positiva na prevenção das complicações relacionadas ao diabetes”, afirma João. Ele também explica que, pelo potencial de utilização na dor crônica, a cannabis pode ser considerada também alternativa terapêutica interessante para o tratamento da neuropatia diabética. “Essa é uma complicação da doença que pode provocar dores fortes e frequentes, piorando muito a qualidade de vida dos pacientes, que muitas vezes precisam utilizar medicamentos para controle da dor, ficando expostos aos efeitos colaterais dessas drogas”, diz ele.
De acordo com o médico, o feedback dos pacientes acompanhados por ele tem sido bastante positivo, sobretudo quando há o estabelecimento de expectativas reais. “Os pacientes, cientes do potencial e das limitações do tratamento proposto, costumam ficar bastante satisfeitos com os resultados. A melhora no humor, na ansiedade e na qualidade do sono podem impactar de maneira positiva o tratamento de uma doença com a qual deverão conviver durante muitos anos”, finaliza o médico, salientando que, dependendo do caso e dos sintomas, os efeitos do tratamento com cannabis podem ser observados em algumas semanas.
